Ação dos EUA afeta aplicação da agenda ESG; entenda

Ação dos EUA afeta aplicação da agenda ESG; entenda
Senadores republicanos dos Estados Unidos votaram contra uma resolução em prol das práticas ESG afirmando politização dos investimentos. 

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Senadores republicanos dos Estados Unidos (EUA) acolheram a saída de uma resolução organizada pelo Departamento de Trabalho que revelava que gestores de fundo de pensão precisariam destacar as práticas ESG no momento da escolha dos investimentos. Eles entendem que a decisão impunha a politização dos investimentos. 

Antes da escolha dos Senadores ser aceita é preciso passar pelo presidente Joe Biden que pode vetá-la. O tema passou a ser debatido, especialmente no Brasil, devido a chance de um novo momento para o setor de finanças verdes.

Segundo Fábio Alperowitch, sócio fundador da FAMA Investimentos, “essa resolução mostra, em princípio, que eles não entenderam o significado de ESG. O ESG não é uma classe de ativos, mas sim uma poderosa ferramenta para mitigação de riscos e incremento de retorno. A resolução americana é um atestado de ignorância, em nada contribui ao debate além de ser um desserviço aos próprios investidores”.

Na visão de Annelise Vendramini, coordenadora do programa de Finanças Sustentáveis do FGVces, o debate no Congresso dos Estados Unidos fez com que houvesse um estudo sobre o mercado financeiro e o ESG. 

De acordo com Vendramini: “o que está acontecendo nos Estados Unidos, além da discussão política, é um debate de alto nível que traz questões técnicas muitos relevantes como, por exemplo, se o ESG dá retorno ou não, quando compromete o risco, como isso deve ser avaliado, quais os parâmetros usados. Não vejo essa discussão no mercado brasileiro, até porque nosso mercado de capitais é muito menor na comparação com o americano.”

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A Quattro Investimentos possui Alexandre Cruz como sócio e assessor que entende que em caso de aceitação da decisão existirá um regresso no debate. 

“Mesmo com ESG em franca expansão no mercado financeiro, ainda temos grandes adaptações para serem feitas e metas de despoluição para serem cumpridas. Dessa forma, fundos de pensão, bem como qualquer outro tipo de fundo fechado, não deveriam pensar em privilegiar fundos ESG, mas considerá-los como premissa. O mercado financeiro está em processo de se adaptar a essa questão tão relevante”, revela. 

Situação brasileira sobre o ESG

Na opinião de Luciano Feres, CFO na Somus Capital, a situação brasileira está em desenvolvimento e, comparando com os outros países, ainda estão se estruturando no mercado de finanças verdes.

“Um exemplo é que lá fora temos os green bonds (títulos verdes) que são emitidos e negociados com muita facilidade e conhecimento, aqui, por exemplo, quando temos uma ‘debênture selo verde’ os investidores ainda demoram para conseguir entender a diferença do ativo”, revela. De acordo com Feres, a agenda ainda não atua com a tríade de forma decisiva para o investidor.

Já Guilherme Teixeira, diretor de Consultoria ESG para Instituições Financeiras e Fundos da NINT, instituição de consultoria e avaliação do Grupo ERM, “observando o mercado de títulos verdes, entre 2015 e 2022, tivemos um total de cerca R$ 200 bilhões de operações sendo emitidos por empresas.”

Fábio Alperowitch não visualiza o cenário do Brasil como favorável. De acordo com ele: “A indústria ESG no Brasil é praticamente inexistente. Apenas 0,3% dos fundos de ações do Brasil seguem ESG. Além disso, estamos em nosso pior momento relacionado à agenda ESG. Pequenos avanços são comemorados efusivamente inclusive por alguns praticantes ESG, o que gera falta de cobrança por avanços maiores. Além disso, a percepção do mercado se dá a partir de um pequeno grupo de empresas grandes.”

Ainda que existam poucas ofertas no mercado de capitais para as ações verdes, o CEO da Rise Ventures e conselheiro do Sistema B Brasil, Pedro Vilela, entende que esse cenário tende a melhorar e a relação entre os termos ser ampliada. 

 “Será cada vez mais difícil desassociar empresas que não olham de forma adequada para a sua parte de ESG”, finaliza.

Fonte: Terra