Um levantamento feito pelo Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon) avaliou as demonstrações contábeis relacionadas a 2021 de 95 das 100 empresas listadas no Índice Brasil 100 (IBrX 100). Somente 29 delas (30%) indicavam seus passivos ambientais no demonstrativo, e apenas 21 delas (22% do total) atingiram algum tipo de risco ligado à fatores ESG.
Nos balanços das empresas mais representativas da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, a preocupação com as práticas ESG (ambiental, social e governança, em português) ainda figura pouco.
Outros dados relevantes
Entre as 21 empresas que identificaram riscos ESG, 14 (15%) estavam relacionadas ao pilar ambiental; 5 (5%) ao pilar socioambiental, e as duas restantes (2%), não indicaram a área.
Já 17 (18%) indicaram provisão para desmontagem de ativos, saída, revitalização e/ou prejuízo (redução do valor contábil de um ativo, em decorrência de eventos que diminuam a expectativa de seu retorno financeiro), sendo que dessas, 59% não divulgaram nas notas explicativas a existência de riscos ambientais.
Além disso, 15 empresas relataram possuírem compromissos ESG formalizados e divulgados. No escopo da avaliação, não foram abordados relatório da administração, relatório de sustentabilidade, formulário de referência, relatório dos auditores independentes, entre outros.
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Segundo o diretor técnico do Ibracon, Rogerio Mota, a falta das informações não necessariamente significa omissão, mas mostra uma demanda por uma complementação das informações sobre riscos e oportunidades em relatórios de sustentabilidade paralelos. Ele diz que, provavelmente, a porcentagem cresça nos próximos anos.
Mota projeta que “É uma tendência na nossa visão, visto que já há casos de captação de recursos em que a obtenção de melhores taxas de juros está condicionada ao cumprimento de metas ESG. Essa tendência pode se estender a outros tipos de contratos“.
Também poderia ser positivo junto a investidores, que cobrariam menores retornos por entender que organizações com boas práticas ESG têm riscos reduzidos e negócios sustentáveis.
Na avaliação da Nelmara Arbex, sócia da consultoria KPMG Brasil e líder em ESG, as empresas atravessam por um momento de transição na publicação dos documentos, com regras diversas para a inclusão das questões nos balanços, e por esse motivo, podem evitar de se arriscar sem ter certeza de como incluí-las.
Ela diz que “É um aprendizado, estamos numa fase de transição. As questões ESG estão se aproximando do centro dos negócios e todos os setores vão experimentar algum tipo de mudança ou desafios que impactarão nos resultados financeiros“.
Desse modo, seria importante ter uma outra visão: embora ainda esteja nessa fase inicial, mais de duas dezenas de empresas já observaram as questões em seus balanços. Adotar as práticas ESG sinaliza ao mercado de que a organização compreendeu as questões e como será afetada por elas.
Por fim, Arbex avalia: “Antes de estar no balanço é preciso que a liderança entenda a relação entre esses fatores e o sucesso do negócio. É importante que para o mercado e os investidores fique evidenciado que os gestores entendem que esses fatores vão ter impactos e contém como vão lidar com eles“.
Fonte: Terra Econômia