Deep Techs e ESG: a convergência que acelera inovação sustentável

Deep Techs e ESG: a convergência que acelera inovação sustentável

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Ao propor inovações robustas, startups de tecnologia profunda projetam era na qual lucro e metas sustentáveis podem coexistir

As deep techs são startups de cunho científico, que buscam resolver problemas complexos e de alto impacto com o desenvolvimento e emprego de tecnologias de ponta, como computação quântica, robótica, nanotecnologia, realidade aumentada etc.

Ao adotar uma linha inovadora acabam criando soluções aplicáveis a vários setores, inclusive aos fatores ESG – ambientais, sociais e de governança –, que são beneficiados, tornando mais viável atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, com data final em contagem regressiva.

O termo deep techs foi criado pela jornalista indiana, Swati Chaturvedi, cofundadora de uma empresa de investimento em 2014, que já trazia embarcada a ideia de que se tratava de startups que promoviam uma descoberta científica ou inovação significativa.

O Brasil vem dando relevância às startups de deep techs, tanto que assinou este ano uma carta de intenção com 24 instituições científicas e empresariais, lideradas pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) para desenvolver uma estratégia nacional para desenvolver deep techs para abordar temas, como mudanças climáticas, biotecnologia, desenvolvimento de vacinas e produtos farmacêuticos.

Nesse contexto, especialistas possuem papel estratégico: ao apoiar a estruturação jurídica de parcerias entre empresas e instituições científicas, ajudam a garantir segurança regulatória, propriedade intelectual e compliance ambiental, social e ético desde a concepção das deep techs.

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Por envolverem soluções de excelência, científicas e originais, as deep techs ainda recebem outros tipos de nomenclaturas: hard tech (tecnologia difícil), tough tech (tecnologia resistente) ou frontier tech (tecnologia de fronteira), sendo classificadas em cinco tipos de desenvolvimento: fronteira do conhecimento, P&D, produtos tangíveis e processos de industrialização, solução de problemas e mitigação de riscos.

Quem pensa que não passam de ciência pura – só investigada por cientistas em laboratórios – se engana. No próprio Cerrado brasileiro, há deep tech atuando em bioinsumos para o agronegócio, visando nutrição vegetal, fixação de nitrogênio no solo, fósforo solúvel e proteção das culturas contra pragas.

Para todas essas ações, a deep tech utiliza sistemas de inteligência artificial e tem potencial disruptivo. A deep tech de que tratamos aqui é a Symbiomics, cujos produtos de insumos biológicos devem chegar ao mercado em breve e foi criada por dois biólogos e pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O trabalho dessa deep tech ajuda a reduzir o uso de fertilizantes, abrindo a possibilidade do desenvolvimento de uma agricultura mais limpa, que traz benefícios ao meio ambiente por não contaminar o solo e a água; aumenta a segurança alimentar, porque é mais produtiva e protege a saúde da população. E, ao fazer uma governança de cunho mais ético, demonstra ser mais responsável em prover recursos para as gerações futuras, estando alinhada aos princípios ESG e metas dos ODS.

A atuação de especialistas jurídicos também é fundamental para orientar essas empresas quanto à conformidade com legislações ambientais e sanitárias, bem como para viabilizar certificações e financiamentos verdes — instrumentos cada vez mais exigidos por investidores atentos à agenda ESG.

Outro exemplo de deep tech no Brasil é a Inspetral, que criou uma tecnologia de análise da qualidade da água, de autoria de duas pesquisadoras da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Inicialmente, foi empregada em reservatórios de usinas hidrelétricas para monitorar a proliferação de macrófitas, plantas aquáticas que apresentam crescimento descontrolado, contribuindo para redução da geração de energia e aumentando o custo para remoção de detritos.

O sistema usa drones com satélites e algoritmos, que analisam as imagens para detectar a presença de microrganismos. O resultado é a possibilidade de uma solução ágil e menos custosa para as hidrelétricas. Em termos ESG, os benefícios são para a governança, por permitir uma resposta rápida; para o meio ambiente, ao evitar perda da biodiversidade e para a sociedade, porque evita desperdício do volume de água potável.

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No exterior, as deep techs também já trazem avanços importantes para o ESG. É o caso da nova solução para a produção das baterias de íons de lítio usadas em carros elétricos, liberando grande volume de dióxido de carbono (CO2) para a  atmosfera. A Thiospark Energy criou a bateria de lítio-enxofre, que vem reduzindo custos (20%), gerando menos impacto ambiental (40%), aumentando rendimento da viagem de embarcações elétricas em três vezes e diminuindo o peso da bateria (30%) e, consequentemente, de resíduos.

Para o professor Marcelo Caldeira Ferreira, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de são Paulo), há cinco tipos de riscos que envolvem as deep techs: regulatórios, relacionados à aprovação das soluções pelas agências reguladoras competentes; de mercado, que envolvem a capacidade da startup de endereçar problemas relevantes por meio de suas tecnologias; financeiros, associados à necessidade de captar investimentos públicos e privados para sustentar longos períodos de desenvolvimento; e riscos ligados à composição do time de fundadores, considerando a importância de competências complementares e alinhadas ao mercado de atuação das deep techs.

A gestão desses riscos exige atuação multidisciplinar, com destaque para o suporte em áreas como regulação setorial, estruturação societária, compliance de P&D e captação de recursos públicos e privados. O apoio estratégico especializado permite mitigar incertezas e acelerar a entrada segura dessas soluções no mercado.

No ano passado, o levantamento Deep Techs Brasil 2024 mapeou que 875 startups no país podem ser consideradas deep techs, uma vez que atuam com biotecnologia, computação em nuvem, healthtech, nanotecnologia, ciência da computação e outras inovações. Mais de 50% delas estão concentradas no estado de São Paulo e têm como grande desafio obter financiamentos públicos e privados para projetos inovadores, que demoram cerca de cinco anos para atingir a consolidação.

Ao propor inovações robustas, as deep techs fortalecem práticas ESG e projetam uma nova era, na qual o lucro e as metas sustentáveis podem coexistir. Por sua consistente base científica e tecnológica, as deep techs têm se revelado catalisadoras na transformação das práticas ESG dentro das empresas, disponibilizando soluções científicas, mensuráveis e escaláveis para desafios complexos que demandam inteligência tecnológica, visão de longo prazo e geração de valor.