Para que seja possível cumprir com o Acordo de Paris, o desenvolvimento de novas tecnologias e a corrida pela descarbonização são iniciativas fundamentais para amenizar as emissões de dióxido de carbono.
Com isso em mente, a consultoria Boston Consulting Group (BCG) promoveu o estudo Shifting the Direct Air Capture Paradigm, que se concentra na captura direta do ar para a remoção de dióxido de carbono de modo escalável e permanente.
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Em entrevista à Exame, o diretor executivo e sócio sênior do BCG, André Pinto, salienta que “Por mais que estejamos estudando diferentes tecnologias para a redução das emissões de CO2, há sempre um resíduo. A DAC pode resolver essa questão, desde que haja investimento e desenvolvimento para que a tecnologia seja acessível e escalável“.
Segundo o executivo, o custo da tecnologia precisaria ser de 100 a 200 dólares por tonelada de CO2 retirado da atmosfera. Entretanto, hoje o custo é de aproximadamente 1.000 dólares.
“Projeções para 2030 é de que o hidrogênio verde, por exemplo, tenha o custo médio de 150 a 200 dólares por tonelada de carbono; o biometano é de 160 dólares. Assim, o DAC só é viável se competitiva“, afirma.
Ainda, o estudo indica que, até 2050, cerca de 10 bilhões de toneladas de CO2 precisarão ser retiradas da atmosfera por ano. Para que seja capaz de armazenar essa quantidade de CO2, o DAC necessita avançar rapidamente nos próximos 25 anos.
“A competitividade acontecerá por meio de incentivos e custo do capital mais baixo. Para isto, governos e agentes privados precisam enxergar a importância da prática como ocorreu, por exemplo, com a energia solar“.
Na visão de André, tomadores de decisão podem enxergar a DAC como uma solução perto de outras práticas que já ocorrem, como o reflorestamento.
“Neste caso, não é necessária uma área tão grande quanto as destinadas ao plantio. Além disto, a tecnologia garante a possibilidade de saber quanto de CO2 foi de fato removido“.
O BCG descobriu quatro formas imediatas de tornar a DAC uma solução efetiva para combater a crise climática. Essas estratégias podem diminuir os gastos e aumentar o apelo da tecnologia. Veja a seguir:
- Conhecimento compartilhado impulsiona a diminuição de custos
Empresas desenvolvedoras podem ser encorajadas pelos governos e pelo setor privado a compartilhar seu conhecimento em áreas menos concorridas ao longo da cadeia de fornecimento. Além disso, à medida que a solução evolui, os investidores deverão escolher dois ou três projetos e direcionar seu suporte para impulsionar o progresso dessas iniciativas.
- Reformulação das Normas Contábeis de Emissões de Carbono
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Uma forma de liberar fontes de financiamento seria a alteração das normas de contabilização das reduções permanentes de CO2. As diretrizes existentes restringem a habilidade das empresas de registrar tais reduções em relação às suas metas de emissões. No entanto, ao revisar as regras referentes às reduções permanentes, especialmente para emissões do escopo 3, as entidades responsáveis pela verificação do carbono capturado incentivariam os investimentos nessas tecnologias.
- DAC como um Serviço Público
Empresas que operam usinas de resíduos municipais geralmente recebem incentivos governamentais específicos para manter seus custos baixos, uma vez que essas instalações prestam um serviço público vital. Da mesma forma, a remoção de carbono da atmosfera pode ser abordada de maneira semelhante, e os governos têm a oportunidade de adotar uma abordagem equivalente para impulsionar o mercado de captura de CO2.
- Importância da localização
Será de extrema importância identificar regiões geográficas com elevado potencial de armazenamento para o sucesso da DAC. Essas áreas devem oferecer uma fonte abundante e econômica de energia renovável, além de atender aos requisitos climáticos particulares de cada solução. Por exemplo, fatores como temperatura local, umidade e altitude podem afetar de maneiras diversas o desempenho da captura de CO2.
Regras de licenciamento, incentivos e acordos multilaterais de aquisição podem contar com a colaboração de agências governamentais reguladoras e setores privados para a rápida criação de uma infraestrutura forte de DAC em locais estratégicos. Essas áreas privilegiadas têm o potencial de oferecer novas fontes de energia de baixa emissão de carbono, ao mesmo tempo em que promovem uma transição equitativa.
Fonte: Exame
Autor(a): Marina Filippe