O mundo tem se mobilizado sobre a urgência das mudanças climáticas, o que fortaleceu a busca por alternativas mais responsáveis de investimento nos mercados.
Uma prova disso é a popularização dos Fundos Negociados em Bolsas (ETF, na sigla em inglês) focado em boas práticas de ESG (ambiental, social e de governança, em português) e que se incorporou de maneira decisiva ao léxico financeiro.
De acordo com o levantamento da consultoria ETFGI, a alocação de capital nessa categoria de fundos superou a marca de US $370 bilhões em 2021, um salto de 84% em relação a 2020.
De maneira geral, esses produtos replicam índices de referência que utilizam os critérios de responsabilidade na metodologia de composição da carteira. Assim, o acesso a uma gama diversa de aplicações é permitido.
O superintendente de sustentabilidade da B3, Cesar Tarabay Sanches, explica que “Por aliarem tais vantagens à crescente demanda do mercado por companhias comprometidas com a sustentabilidade e resiliência de suas atividades, os ETFs ESG vêm experimentando um crescimento exponencial em todo o mundo”.
No cenário brasileiro, o número de ETFS de ESGs disponíveis no mercado quadruplicou desde o início de 2020 e agora chega a 12, possuindo um patrimônio líquido total superior a R$ 2,2 bilhões, segundo Sanches.
Atualmente, a bolsa brasileira oferta oito índices de ESG, sendo quatro destes com algum ETF associado. Especificamente, o Índice Carbono Eficiente (ICO2 B3), reúne organizações que integram práticas de descarbonização em seus modelos de negócios e é refletido pelo ECOOO11, gerido pela BlackRock.
Essas referências inclinam-se desempenhar superiormente aos benchmarks do mercado em geral. Nos Estados Unidos, os 13 índices de ESG que seguem ações de empresas com alta capitalização tiveram registro de ganhos entre 25,6% e 31,7% em 2021, de acordo com dados da Morningstar. Dentre eles, sete obtiveram um salto em mais de 30%%. Já o S&P 500 valorizou 26,9% no ano.
No Brasil, o ICO2 B3 realizou avaço de 103,86% desde 2010, ano de seu lançamento, contra 60,91% do Ibovespa.“Assim, por refletirem o desempenho de tais índices, os ETFs ESG são ideias para qualquer investidor que busque diversificar seu portfólio de forma responsável e consciente, sem renunciar ao retorno financeiro”, destaca Sanches.
A conformidade com as práticas ESG afeta positivamente as métricas financeiras das empresas, com impacto para o acionista, explica Maria Eugenia Buosei, especialista na área e sócia e CEO da consultoria Resultante. Ela dá exemplo: “Quando a companhia olha para a questão ambiental, ela tende a ter um menor risco de acidente, está mais preparada para as mudanças climáticas que estão vindo aí, tende a ser mais eficiente operacionalmente”.
A especialista ainda ressalta que a agenda ESG terá que ser incorporada nos planos de negócios das corporações, inevitavelmente. “O pensamento sistêmico das questões ESG abre portas para ter melhor eficiência, melhor relacionamento, criar oportunidades de negócios e redesenhar produtos e serviços”, pontua.
O ETF ESGB11, do BTG Pactual, está entre os produtos mais populares nessa categoria e segue o índice S&P/B3 Brasil ESG, que integra ações com critérios de sustentabilidade com base na metodologia da S&P.
Empresas em atividades comerciais controversas, como tabaco, armas e carvão, são excluídas, assim como as que não cumprem o Pacto Global da ONU, que determina principios básicos nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção.
“A ideia por trás desse índice é fomentar a melhora das práticas das empresas”, afirma o head de renda variável da BTG Pactual Asset Management, Will Landers.
Para Landers, no Brasil ainda há muito espaço para que essa modalidade de aplicações cresça. “Esses fundos temáticos ainda não cresceram muito no Brasil. O fato de termos passado de 2 milhões de CPFs registrados na bolsa em 2019 para 5 milhões cria mais usuários para esse tipo de produto. E o ETF é um produto muito bom de entrada”, completa.
Fonte: Estadão
Autor: André Marinho