Com as práticas ESG ganhando cada vez mais relevância no mercado corporativo, um novo cargo tem ganhado destaque nas empresas: os Chief Sustainability Officers (CSOs). Esses profissionais são responsáveis, entre outras coisas, por traçar o plano estratégico de sustentabilidade e impacto social das companhias.
A consultoria de recrutamento executivo Egon Zehnder conduziu uma pesquisa com 329 empresas de 53 países e descobriu que 8% das organizações possuem um CSO à frente do tema.
Embora seja um número pequeno, o estudo indica que, atualmente, esses profissionais se reportam diretamente aos CEOs e conselhos. Isso representa uma valorização da agenda e do cargo dentro das empresas.
Para Caroline Lico, responsável pela pesquisa, houve um crescimento da demanda por parte das companhias em recrutar líderes seniores com experiência em sustentabilidade. Ela destaca que “ter um CSO não é mais algo opcional para as organizações que querem fazer parte dessa agenda. Virou algo primordial”.
De acordo com ela, os CSOs podem ter formações variadas. “Dentro do mercado brasileiro, existem muitos diretores de sustentabilidade que vieram da área de comunicação, principalmente por conta do conhecimento sobre o tema reputacional. Tem também outra trajetória de carreira ligada às relações governamentais, uma parcela menor formada por pessoas que vieram do próprio negócio e, por fim, executivos de RH.”
Contudo, Lico acredita que o que realmente importa são as características desse profissional. “Existem algumas competências fundamentais para que um CSO seja bem sucedido, especialmente conhecimento técnico, habilidade de colaborar e influenciar, e ter uma mentalidade estratégica. O CSO não vai fazer a transformação sozinho. É preciso transformação sozinho. É preciso transformar a sustentabilidade em uma agenda da organização.”
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O engenheiro químico e diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem, Jorge Soto, iniciou na área em 2009, quando o cargo ainda não existia no Brasil. Ele estuda o tema desde 2001 e diz que o principal objetivo do time de sustentabilidade é estar por dentro do que está por vir dentro da temática e o impacto para a companhia.
“Nós temos que desafiar o status, provocar a mudança dentro da empresa e criar estratégias conhecendo o tamanho do desafio”, diz Soto.
O executivo relata que o ponto focal na agenda ESG trouxe mais pessoas para a discussão e provocou os profissionais da área a repensarem seu papel.
“São pessoas que nos ajudam a movimentar o que nós, há dez anos, fazíamos sozinhos. Esse compartilhamento é importante, porque você não pode se sentir dono do tema”, alerta.
Christiani Marques, professora assistente e doutora na PUC de São Paulo, traz pontos importantes para quem se interessa em atuar na área. Ela destaca a importância da empatia, criatividade e capacidade de lidar com conflitos. A professora recomenda cursos de comunicação não violenta, mediação e negociação.
Ela ressalta que estamos vivendo uma mudança de paradigma de cultura, na qual devemos considerar as relações como chances para que ambas as partes saiam vencedoras. “O profissional que busca uma formação em sustentabilidade, em geral, já entendeu que deve caminhar junto com as inovações tecnológicas e não brigar com o que foi feito pelos nossos antepassados.”
Outra testemunha do recente crescimento do ESG, Chris Canavero, ex-diretora global de ESG do Nubank, iniciou sua trajetória em sustentabilidade em 2008, quando ainda não existia formação no tema.
Com passagem pelo Walmart e pela Dow Química, Canavero relata que “aprendia conversando com os colegas, entendendo quais eram os dilemas, participando de fóruns e buscando especialistas no mercado. E foi a partir daí que começaram os cursos, os MBAs e as pós-graduações em ESG”.
Ela acredita que o profissional da área deve ser, antes de tudo, um influenciador e um facilitador. “Essa é uma agenda de todos. Se o CSO tiver que cumprir o trabalho da organização inteira na área de ESG, vai acabar frustrado”, afirma.
Ainda, ela enfatiza que, para atuar com o assunto, é preciso ser movido pelo propósito, e não por salário, cargo ou status. “Normalmente, quando encontramos casos assim, são pessoas que usam a área como trampolim para outra coisa.”
Já Rosane Santos, diretora de ESG, relacionamento com comunidade, meio ambiente e comunicação corporativa da mineradora Bamin, se formou em contabilidade e trabalhou durante 15 anos com governança.
Foi responsável por estabelecer a área de sustentabilidade da Nissan no Brasil e na América Latina, em 2017, e, desde então, vem se dedicando ao assunto. “Eu não me intitulo diretora de sustentabilidade porque esse tema é transversal na companhia. Enquanto ESG consigo ter visibilidade de tudo e posso avaliar a performance que a organização tem em cada um desses temas.”
Segundo ela, seu principal desafio está em promover o engajamento da alta liderança. “Não adianta eu e a minha equipe puxarmos a agenda. Os diretores e o CEO precisam enxergar valor e comprar a ideia, e esse é um processo contínuo.”
O conselho de Rosane para quem deseja ingressar na carreira é, primeiramente, tirar o estigma de que o ESG se limita apenas ao meio ambiente e à comunidade. “Às vezes, dentro do departamento em que a pessoa trabalha, ela já está contribuindo com o ESG da companhia”, diz.
“Mas, se quiser fazer parte de um núcleo de inteligência na área, é preciso entender de gestão de projetos, escolher um setor do negócio com o qual se identifique e, obviamente, estudar.”
Fonte: Valor Econômico
Autor(a): Fernanda Gonçalves