Os relatórios de sustentabilidade, antes usados apenas para abordar métricas relacionadas ao meio ambiente, agora desempenham um papel crucial ao guiar as práticas de ESG (ambientais, sociais e de governança) e tem sido cada vez mais adotado nas organizações.
Empreendimentos de todas as dimensões passaram a comunicar essas ações pelo menos anualmente, exibindo comprometimento com a agenda sustentável. Entretanto, especialistas apontam que a falta de um padrão global ainda representa um desafio.
Mauricio Colombari, sócio da PwC Brasil, enfatiza que, no Brasil, a prática tem de fato ganhado força, mas de maneira voluntária.“Um número maior de empresas passaram a adotar o relatório como um meio de comunicação com os seus stakeholders.”
Ele acredita que, eventualmente, os relatórios se tornarão obrigatórios e seguirão um padrão específico, similar aos balanços divulgados por empresas de capital aberto. Colombari também ressalta que a tentativa de criar um conjunto de normas pelo International Sustainability Standards Board é uma medida para estabelecer uma uniformidade global.
“O objetivo é que sejam informações completas, consistentes e comparáveis da mesma forma que os balanços financeiros”, ele explica, indicando que isso tornará a avaliação dos dados fornecidos pela empresa mais acessível, não apenas para investidores, mas também para a sociedade em geral.
O gerente de relações institucionais do Instituto Brasileiro Governança Corporativa (IBGC), Danilo Gregório, afirma que “a flexibilidade de uso fez com que houvesse muita confusão. Um padrão, já impulsionado no mercado internacional, facilitará a vida do investidor, que pode fazer comparações entre companhias de um mesmo setor”.
Jansen Moreira, CEO e fundador da startup Incentive.me, compartilha da mesma visão e enfatiza que métricas já estão em desenvolvimento para auxiliar na elaboração dos relatórios, como o Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD), que já é adotado por algumas empresas.
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“O grande diferencial deste modelo frente aos outros é o peso que ele dá para a governança corporativa, evitando que o relatório se torne uma propaganda das práticas da empresa, como acontece hoje em dia”, diz.
Moreira ressalta que essa tendência é mais evidente na Europa, onde a preocupação com a adoção de relatórios com métricas exclusivas é notável. Além disso, o continente já adota amplamente a ligação entre a remuneração dos executivos de alto escalão e as métricas ESG, incentivando o desenvolvimento concreto dessas métricas nas empresas.
No entanto, segundo Gregório do IBGC, o fator que verdadeiramente impulsionará o avanço da agenda no Brasil é a recente divulgação de duas normativas sustentáveis pelo International Financial Reporting Standards (IFRS), órgão responsável pelo padrão contábil internacional adotado no país.
Ele chama a atenção para o fato de que, mesmo não sendo sempre associadas, é cada vez mais frequente a inclusão das métricas ambientais nas informações financeiras das empresas, agregando valor e fortalecendo a conexão entre a agenda ambiental e os negócios.
A vice-coordenadora de Relações Internacionais do CBPS (Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade), Vania Borgerth, explica:
“Apenas os números já não são mais suficientes para medir risco. A informação que agrega valor é importante para um stakeholder tomar uma decisão e para que ela seja mensurável é preciso que seja auditável. O IFRS é útil para que essa informação de sustentabilidade seja integrada com a informação contábil”.
Segunda ela, a tendência é que as métricas trilhem um percurso semelhante ao que ocorreu com a contabilidade. ”Anos atrás, as métricas diversas causavam confusão porque algumas empresas davam lucro pela regra de um país e prejuízo pela regra de outro, o que acabava dificultando a realização de acordos internacionais e forçando o surgimento de uma linguagem global.”
Concessão de crédito
Colombari ainda expressa sua crença de que as métricas devem ganhar ainda mais destaque, especialmente porque já estão sendo empregadas atualmente na avaliação para a concessão de crédito.
“Atualmente, um banco consegue fazer um mapeamento para entender o segmento da empresa, se é poluente, quais os seus recursos e se a companhia tem algum tipo de compromisso em zerar as emissões.”
Segundo ele, todas as empresas que buscam empréstimos devem estar prontas para oferecer esse tipo de informação por meio de métricas tangíveis. Contudo, Colombari ressalta que mesmo as empresas interessadas em adotar relatórios devem proceder com cuidado.
“Simplesmente criar um relatório é pegar um atalho perigoso, principalmente porque eles são terceirizados na maioria das vezes. Ao criar uma história sustentável, muitas empresas acham que está criando uma vantagem competitiva, mas, se não é verdadeiro, acaba sendo um enorme risco”, explica, destacando ser preciso, em primeiro lugar, implementar essas métricas.
Fonte: Estadão
Autor(a): Beatriz Capirazi